As carangas do surf?

Há muitos anos tinha vontade de escrever sobre o mercado de automóveis e nunca havia aparecido algum assunto que me levasse ao interesse, ou mesmo algo relevante que merecesse a atenção. Digo isto porque o mercado de carros chamados Adventure de aventura mesmo, só tem o nome e o preço. O mercado do surf brasileiro é a terceira potência mundial. Hoje contamos com milhões de praticantes por todo o país, e até nos estados do interior o surf é muito popular. Milhares de surfistas viajam muitos km para deslizar sobre as ondas e, com certeza, dentro deste contexto, a tribo é de grande interesse para qualquer montadora de veículos. A indústria automobilística certamente teria um número muito maior de vendas se conseguisse enxergar e atender as necessidades do segmento.
Hoje seguramente o surf está entre os três esportes mais praticados no Brasil, e nossa indústria gera mais de R$ 8 bilhões, somente no Brasil. Há alguns anos atrás, as montadoras visando abocanhar este mercado em alto crescimento, resolveram desenvolver a linha Adventure / Surf para algumas linhas de veículos e para a surpresa total, os carros tinham de “aventura” apenas um estribo e faróis de milhas, e alguns modelos ditos “surf” nem racks para levar as pranchas tinham!

Em 1993, a Volkswagen Brasil lançou a Parati GLS 1.8, carro que em minha opinião de “garotão” no final da década de 80, tinha tudo a ver com o surf. A caranga era irada! Tinha bancos de couro de série, vidros elétricos e dois itens que até hoje acho indispensáveis para as barcas do surf: os racks e os bancos bipartidos. E vale ressaltar que naquela época o mercado do surf ainda engatinhava se comparado aos tempos de hoje. Aposto que nenhuma montadora ainda enxergava o BOOM que o mercado do surf viria a sofrer nos anos seguintes.
Coloquei o exemplo da Parati, pois naquela época éramos nós, os surfistas, que nomeávamos o “carro do surf”. Com certeza, muitas barcas foram feitas em Fuscas e Brasílias nos anos 70, Belinas no início dos anos 80, e foi a Parati que dominou a cena de no final da década de 80 e 90, sendo até hoje um dos carros mais concorridos por toda a tribo do surf.

Na trilha evolutiva da tecnologia, muitos acessórios foram introduzidos na lista de opcionais dos veículos, como o air bag, piloto automático e muitos outros itens que fazem o preço do carro “subir a serra” e chegar até a praia mesmo estando parado na concessionária. O que mais me chama atenção em toda esta evolução é que o surf foi introduzido neste contexto, mas pelo que se vê nos carros que levam o nome do esporte, nada mudou.
É a Parati Surf, que de surf tem os mesmos itens da PARATI GLS 1.8 de 1989, é a Saveiro SuperSurf que de surf mesmo só tem o nome, o Peugeot Quiksilver que de surf só tem a logo da famosa marca australiana em sua lataria... Enfim, todos carregam nosso “escudo” e de utilidades reais para nós, nada! Desculpe a franqueza, mas destes veículos qual realmente tem um linha de acessórios de série que atenda nossas necessidades? Pelo menos existe alguma chance de você escolher um acessório opcional, do tipo compartimento para roupa molhada, porta parafina ou mesmo um GPS com os picos de surf para incrementar sua caranga? A resposta é não! Sinceramente, nem um rack para carregar as pranchas alguns destes modelos têm, e o que é pior, em alguns modelos este acessório é opcional!

Se tratando de carro para surfistas deveria ser item de série.
Será que as mondadoras não enxergam que o nosso mercado é altamente lucrativo e que se eles realmente ouvissem opiniões para implementar melhor os acessórios destes veículos venderiam mais e deixariam muito mais satisfeitos seus clientes?
Rodei por muitos anos a maioria dos eventos de surf no Brasil e no mundo, e sempre observei várias marcas de veículos fazendo promoções e divulgando seus novos modelos, mas nenhuma saiu atrás de informação do que realmente precisaria uma barca para surfistas.

Será que as montadoras vão aos eventos, divulgam seus carros e não fazem nenhum tipo de pesquisa no mercado em que vão atuar? Fiz uma pesquisa na maioria dos carros que se dizem de aventura e sinceramente não observei muita diferença em seus modelos convencionais, salvo o modelo Palio Weekend Adventure que possui o sistema locker que melhora a sua performance em trechos de terra acidentados, mas não é indicado para grandes aventuras. O que mais chamou a atenção neste veículo é que como o asfalto de algumas cidades brasileiras é péssimo, ele leva vantagem em cima dos outros modelos, pois não podemos esquecer que andar em algumas ruas e estradas da malha rodoviária brasileira é uma grande aventura.
Será que estamos precisando de um Kelly Slater no setor de engenharia das grandes montadoras? Não sou engenheiro, todavia tenho absoluta certeza que a introdução de alguns itens de série deve ter um custo muito alto nas linhas de montagens, okay, contudo, levando em consideração o número de praticantes e simpatizantes do esporte no Brasil e em todo mundo, tenho certeza que cada centavo valerá a pena.

Por Alex Araújo / Fonte ParafinaMag

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